Em Quem me roubou de mim? Sequestros da subjetividade e o desafio de
ser pessoa, o padre Fábio de Melo nos leva a refletir sobre quem somos e a
partir disso o que buscamos em todos os nossos relacionamentos. Nessas
relações, Fábio aborda os mais diversos tipos de cativeiros a que somos
sobmetidos, mas também aponta aqueles que criamos para os outros.
Este é
um excelente livro. Cheio de conceitos filosóficos, psicologias, análises e,
principalmente, argumentos fundamentados na experiência de vida do padre Fábio,
a obra trata de relacionamentos e suas diversas perspectivas. Entre uma página
e outra, deparei-me com um texto poético, cheio de reflexões que aprimorou meu
modo de pensar e agir. Difícil fazer um resumo completo, abordando todos os
tópicos que o autor explanou. Por isso, decidi fazer alguns comentários
pontuais sobre as principais questões levantadas. Aos poucos, farei comentários
aleatórios referentes ao livro e postarei no blog.
Não o considero
autoajuda, nem religioso ao ponto de associá-lo à Igreja Católica. Antes, é
preciso deixar alguns paradigmas de lado, pois sei que escrevo para cristãos
protestantes, católicos, evangélicos, etc. Sobretudo, este é um livro que nos
faz refletir. Obviamente, o autor, por sua conduta e formação, faz referências
bíblicas de muito valor, mas sem a pretensão de influenciá-lo. A meu ver, a
ideia é nos levar a compreender o quanto podemos ganhar em nossas relações interpessoais
com a ajuda libertadora que só Jesus nos oferece.
Quero
começar falando do tema principal, é claro: sequestros
da subjetividade. Estamos familiarizados com a palavra sequestro,
uma vez que os noticiários estão repletos de histórias onde sempre há uma
vítima e um algoz. Este algoz retira a vítima de seu espaço, família, amigos,
ou, como o autor denomina, horizonte de sentido,
e a oprime, roubando o direito que ela tem sobre si mesma e suas ações.
Quando falamos de subjetividade, referimo-nos às coisas que não podemos tocar e
àquilo que está além do físico. A subjetividade está localizada no íntimo de
cada um de nós e é resultado de crenças, aprendizados e experiências que
adquirimos ao longo da vida. “O sequestro da subjetividade se refere a outra
forma de afastamento. Neste caso, a privação mais danosa é a que sofremos de
nós mesmos”, explica o padre. Em outras palavras, ele fala de vínculos que
interferem na nossa capacidade de ser quem somos, de agir como queremos e de
fazer nossas próprias escolhas. É possível que ao ler esse trecho você já tenha
se identificado com o que foi descrito, então, sugiro que leia o livro.
Contudo,
o autor não se prende apenas ao sequestrado e ao sequestrador, a discussão vai
muito mais além. É preciso que você saiba: “Há pessoas que nos roubam; há pessoas que nos devolvem”. Em nossos
relacionamentos, de qualquer natureza, podemos ser roubados. Existem pessoas
que roubam seus sonhos, por exemplo, seus pais, quando o proíbem ou
simplesmente não o apoiam em suas escolhas profissionais e pessoais. Existem
pessoas que roubam suas características peculiares, que fazem você ser quem é. O
que nos leva ao outro ponto importante: o desafio
de ser pessoa.
“Nascemos
indivíduos. A condição de pessoa é uma meta a ser vivida, um objetivo a ser
alcançado. [...] um desafio”, frisa Fábio. Ou seja, desde que nascemos até o
presente momento, estamos em um processo de construção de nossa subjetividade
para sermos quem somos. Portanto, pergunto: Quem é você? Duvido que saberá me
responder com inteireza, pois este é o maior desafio que o ser humano pode
enfrentar em sua vida. Descobrir quem é, assumir seus defeitos e numerar suas
qualidades. Quando pergunto, “Quem é
você?”, refiro-me à sua subjetividade. Quero saber o que te faz feliz e
triste, o que te completa e o que te falta. Indo mais a fundo, quero saber
traços do seu caráter e porque você tornou-se assim, do seu jeito. Acho esse um
dos pontos mais interessantes do livro. Aliás, quero compartilhar um dos
trechos que mais chamou a minha atenção: “Ser pessoa consiste em dispor-se de
si e dispor-se aos outros. Trata-se de um projeto audacioso de pertencer-se para
doar-se”. Fantástico. Em outras palavras: descubra quem você é e aceite-se,
liberte-se e, por fim, doe-se. O
padre Fábio de Melo ainda analisa diversos outros pontos interessantíssimos
sobre ”o desafio de ser pessoa” no
livro, que, com certeza, vale a pena ler e tomar nota. O autor ainda fala sobre
o mal dos relacionamentos nascidos e solidificados nas redes sociais. Além
disso, ele explica as diferenças entre prazer e desejo, amor e paixão e nos
ajuda a compreender que o “amor perfeito”
é um mito criado a partir dos contos de fadas que nos tira a razão.
Antes
de mais nada, é importante você saber que “uma vez sequestrados, perdemos a
capacidade de sonhar, ficamos impossibilitados de viver as realizações para
quais fomos feitos e não temos com quem reclamar”, pois “nenhuma relação humana
está privada de se transformar em roubo, perda de identidade, ainda que as
pessoas pareçam bem-intencionadas. Um só descuido e as relações podem evoluir
para essa violência silenciosa”, conclui Fábio.
Sem
mais, desejo-lhe uma boa leitura.
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Ficha Técnica
Quem me roubou de
mim?
Autor: Melo de, Fábio
Editora: Planeta
Ano: 2 ed. – São Paulo – 2013
Sessão: Cristianismo/Religioso/Psicologia
Por Jhenifer Costa