domingo, 1 de fevereiro de 2015

Sobre tecnologia e privadas (isso mesmo, privadas)

        Outro dia, fiz uma matéria sobre a facilidade que a tecnologia nos oferece no dia a dia, caso alguém ainda não tenha lido, cliqueaqui. Pois bem, cada palavra dita naquele texto faz sentido e é verdade. Porém, me ocorreu que essa pode ser uma verdade fatal para a nossa geração.
            Pense nisso.
          Recentemente, fui a uma loja de matérias para casa e construção, não porque eu esteja construindo ou reformando, longe disso. Na verdade, é a minha mãe quem adora gastar seu tempo livre procurando o que comprar em lojas desse tipo. Ela sempre entra e fica bisbilhotando as prateleiras, como se precisasse dos objetos que encontra pela frente. Às vezes ela compra, às vezes ela passa vontade. Minha casa é tão cheia de tralhas que não pisamos em chão, pisamos em enfeites, potes, bugigangas. Nesse dia, inevitavelmente, ela conseguiu me arrastar para o seu vício.
                Andando por entre as dezenas de prateleiras, vi algumas coisas tão tecnológicas e caras que jamais teria em minha casa, futuramente. Agora, rapidinho, dividirei um sonho com você. Na minha casa, quando eu tiver uma, não quero cortinas, não quero paredes. Quero uma casa integrada, com bastante janelas, móveis sustentáveis e uma cama bem grande, no chão. Eu quero uma parede decorada com todas as fotos que consegui tirar na minha vida dos bons momentos que tive com a família e amigos. Não quero guarda-roupas, pois quero ver tudo o que tenho pendurado numa arara, para ser mais prático. Ah, não posso esquecer de mencionar que quero panelas coloridas, um forninho elétrico vermelho e um porta-tempero bem diferente.
                Eu fico imaginando as minhas visitas dormindo em colchões espalhados pela casa, será uma cena linda e cômica. Mas esse é um sonho tão louco e incomum que não encontrei nada que se encaixasse na descrição acima na loja em que eu estava. Então fui perguntar para a vendedora se lá tinha a tal da arara. Foi engraçado. Ela me disse que eles não vendem esse produto porque ninguém usa esse tipo de “coisa antiga”. Cretina. Eu fiz uma cara de “então está bem” e fui saindo.
                Caramba, fiquei curiosa com a resposta dela e voltei. Pedi para ela me mostrar o que havia ali de mais tecnológico para banheiros. Ela me olhou dos pés à cabeça. Foi até constrangedor e antiprofissional. Ela deve ter me imaginado usando o banheiro. E você, por favor, não imagine. Por fim, ela me mostrou um “zilhão” de coisas, fez um blá blá blá que eu não lembro nadica. Ai, vendedoras. Quando acabou a falação, a agradeci pelas informações e fui saindo. Contudo, ela fez um comentário interessante, que vou repetir exatamente como foi dito: “Hoje em dia, o foco é a tecnologia pra tudo e todos, até na hora de usar o banheiro”.
                Foi o que meu amigo e cunhado José Ricardo comentou comigo também: “A palavra tecnologia engloba tudo o que conhecemos hoje, desde celulares até uma geladeira”. Ele fala isso com propriedade, pois estuda Ciências da Computação e compreende a técnica e teoria do que estamos discorrendo aqui.
                Pois bem, isso nos leva ao ponto alto deste texto. De qual forma essa tecnologia toda está afetando nossas casas ou nossas futuras casas? A resposta é simples. A maioria das casas dos moradores das classes B, C e D estão diminuindo, concentrando tudo em poucos cômodos. Parte pela superpopulação, pelo menos no estado de São Paulo, e a outra parte é porque as pessoas não se importam mais com casas grandes, porque as famílias estão ficando cada vez menores. As pessoas passam menos tempo dentro dos seus lares, pois trabalham o dia todo.
                Levando em consideração que o Brasil é um país rico, pois conta com centenas de riquezas naturais altamente rentáveis, cujo valor no mercado exterior é supervalorizado pela qualidade dos produtos, mas também abriga uma das nações mais pobres do mundo (cerca de  200 milhões de habitantes), podemos encontrar algumas respostas. Pense. Portanto, ressalto apenas duas que julgo serem importantes: nossas casas vão diminuir mais ainda, pois essa geração e as próximas só pensam em carreira profissional e sucesso financeiro, família estará sempre em segundo plano, consequentemente, casas grandes não serão cogitadas. Segundo, a tecnologia deu lugar a um mundo novo de sonhos e planos. Não existe mais espaço para pessoas que sonham com sítios, lareiras, fornos grandes e casas com quatro quartos. Isso ficou no passado, com nossos avós. Hoje, a maioria dos jovens quer viver num lugar pequeno e confortável, de fácil acesso aos shoppings e às ruas movimentadas de grandes centros urbanos. Confesso, eu também quero isso. Mas será que é pedir demais querer isso, só que numa casa estilo porão reformado?!
                Estamos mudando. Estamos permitindo que coisas importantes desapareçam da nossa vida, por exemplo, uma boa varanda sombreada por uma grande árvore na calçada.
                Obviamente, a tecnologia tornou-se algo necessário. Admito. Mas até as privadas precisam ter sensores que checam a pressão arterial e a temperatura do corpo, além de medir quantidade disso e daquilo? Gente, cadê a paz na hora de usar o banheiro?!


                Não estou conseguindo lidar muito bem com isso, rs. 

Por Jhenifer Costa 

Um comentário:

  1. hahahaha
    E isso é a mais pura verdade. Esse conceito de vida no campo já quase não existe mais. Por outro lado, para tentar disfarçar essa sensação, perceba que os comerciais de construtoras sempre mostram apartamentos e condomínios com muitas áreas verdes... É só para a pessoa pensar que está comprando "tecnologia" com "sossego".
    http://www.blogdahida.com/

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