segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Entenda os mistérios que cercam a série “The Record Kepper “

Assista a série completa: http://therecordkeeper.com.br



Por Jhenifer Costa

Anjos e demônios, céu e terra. Estamos cercados e não podemos fugir. “The Record Kepper”, série financiada pela Igreja Adventista do 7º Dia, IASD, produzida pela “The Puddle Films” e dirigida por Jason Satterlund, revela como  acontece a batalha entre o bem e o mal no contexto bíblico.  É baseada no livro “O Grande Conflito”, obra da escritora adventista Ellen White. O projeto completo foi aprovado e financiado pela sede administrativa da IASD, em meados de 2002. Entretanto, a série começou a ser pensada e roteirizada muito antes disso. Trabalho duro e caro.

Dramatizar um livro como “O Grande Conflito” não é uma tarefa fácil. Quem conhece a obra, sabe que ela é cheia de contextos que só quem já leu os livros de Daniel e Apocalipse conseguirão entender. Complexo. Transformar esse livro em roteiros cinematográficos necessitou de empenho. Satterlund, diretor, produtor e também roteirista da série, pensou em cada detalhe, juntamente com Rajeev Sigamoney e Garrett Caldewell. O resultado foram 11 episódios, com duração de sete a 15 minutos. Na verdade, a série era para ser dividida em diversas temporadas. Os 11 primeiros episódios eram para contar a história da “Deserção”, momento em que a humanidade toma conhecimento do bem e mal, até o dilúvio. Porém, ela foi resumida, tendo a primeira e última temporada até o sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Basicamente, os 11 episódios retratam o que acontecia nos “bastidores”, enquanto a humanidade enfrentava as piores batalhas registradas na bíblia.

Ninguém imaginava que a série “The Record Kepper” ficaria tão boa. A organização não tinha noção que o resultado final seria digno de Hollywood! Jason queria transformar essa série em algo absolutamente real, ele queria que os anjos parecessem tão verdadeiros quanto a tela do seu computador. Quase palpável. Particularmente, acho que ele alcançou seu objetivo. Ao assistir, senti que os anjos são como nós mesmos, até em nossas peculiaridades humanas. O elenco é excelente, os efeitos especiais superaram as expectativas iniciais de todos.

O problema aconteceu depois que tudo estava pronto. Agora, mostram-se os dois lados da moeda. Fico feliz em saber que a série foi finalizada e, mesmo com todas as implicações, podemos assisti-la online. Porém, entristeço-me ao saber que tanto trabalho, aliás, bom trabalho, foi vetado pelo conservadorismo forte que ainda existe entre nós. Para vocês saber, durante as gravações diversos representantes da igreja e do Centro de Pesquisas Ellen White acompanharam tudo de perto, nos sets de filmagem.

Satterlund destaca dois pontos fortes que levaram à decisão de cancelamento da série:
      Uma das atrizes da série promoveu uma festa de lançamento num bar, sexta-feira à noite.
            A série “The Record Kepper” foi inscrita e participou do Geekie Award Show 2013.

Então, a igreja se dividiu. Pessoas que apoiavam a série financeiramente prometeram deixar de fazê-lo se a série fosse lançada mediante as circunstâncias citadas acima.  Agora ela é exibida de forma independente, através do Youtube.  Felizmente, milhões de pessoas tiveram acesso ao conteúdo completo e todas foram alcançadas pela mensagem. Preciso dizer que não concordo que os motivos citados acima são fortes o suficiente para o cancelamento da série. Entretanto, em nota divulgada pela administração da IASD mundial, o motivo são os erros teológicos “descobertos” somente após o trabalho ser finalizado.

Não cabe a mim dizer se os envolvidos erraram ou acertaram. O importante é que Deus se encarregou de levar a mensagem, pois ela precisa ser pregada de qualquer forma, principalmente para pessoas que ainda não conhecem a Jesus. ”As pessoas alcançadas não podem ser mensuradas, mas são muitas”, revela Jason. Quando questionado a respeito dos motivos que levaram a série a ser cancelada, ele diz: “Não me arrependo de nada e, se pudesse, faria tudo exatamente como fiz”, complementa.

Sobre Jason Satterlund

Jason Satterlund é dono da produtora “Big Puddle Films”, criada em 2001. Além da série “The Record Kepper”,  fez trabalhos para clientes como Bom Jovi, Warner Brothers, CNN, Adventist Health, entre outros. Atualmente, está trabalhando em um novo projeto chamado “The Planet Tender”, também abordando a temática angelical.


Satterlund trabalha na indústria cinematográfica há mais de 25 anos, com isso se especializou em produção, direção, redação, fotografia e edição. Isso o leva ao circuito de festivais de cinema, onde tem a oportunidade de dividir seu trabalho com pessoas do mundo inteiro.  Ele conta que sempre quis contar histórias e isso o motivou a trabalhar com cinema, pois filmes não são nada além de histórias. Jason reside em Portland – Oregon, e é casado com Michaele Lawrence Satterlund. 

domingo, 26 de outubro de 2014

Sem esperança não dá

Por Jhenifer Costa

Hoje, vou contar a história de Valdemir.

Provavelmente, se você passar por ele na rua não sentirá diferença alguma na sua vida. É o que ele mesmo disse. Talvez, ele não faça diferença na vida de ninguém, pois todos os dias milhares de pessoas passam por Valdemir e nenhuma sequer presta atenção nele. Valdemir é um sem-teto, ao contrário de você. Imagino que você deve estar sentado num lugar confortável enquanto lê esse texto, assim como eu, enquanto digitava. A maioria de nós, na verdade, nunca esteve numa posição tão ruim como a dele. Não sabemos o que é estar num lugar horrível, cercado de pessoas que nos ignoram e nos desprezam. Ao relembrar os detalhes da história dele, tento, mesmo que de maneira bem superficial, colocar-me em seu lugar.

Acreditem, senti na voz dele que tudo o que falava era muito verdadeiro e duro. Para Valdemir, morar nas ruas foi a única solução para resolver os seus problemas. Ele tinha casa, família, uma cama quentinha e até um cachorro. Tudo era perfeito. Ele trabalhava e quando chegava em casa era recebido por sua esposa, que o esperava com um sorriso no rosto todos os dias. Porém, um dia as coisas começaram a ficar meio desajustadas.  Ele perdeu seu único filho, de 22 anos, e seu casamento, de 23. Infelizmente, o homem ainda acha que para resolver os seus problemas, uma boa dose de álcool pode ajudar, mas as coisas só pioram. Valdemir perdeu tudo! O álcool se responsabilizou por ajudá-lo. Na verdade, a culpa não era só do álcool, tem muitas outras coisas em questão, por exemplo, as circunstâncias que o levaram ao alcoolismo. Ele entrou numa depressão profunda. Sua saída foi a bebida e, posteriormente, o crack.

Quando ouvi a história de Valdemir já fazia três anos que ele estava vagando pelas ruas de Mogi Guaçu – cidade onde nasceu. Durante esses anos como “mendigo”, ele era espancado frequentemente por policiais e jovens delinquentes que passavam por ele. “Eu apanho de ‘todo mundo’, mas não faço nada a ninguém. Eu não falo com ninguém!”, dasabafa. Sabe, enquanto ouvia isso, fiquei muito chocada com a crueldade que existe nas pessoas. Como alguém pode praticar tamanha brutalidade com um ser tão indefeso? Em boa parte do tempo Valdemir estava ou está sob efeito do álcool, trocando os pés pelas mãos. As pessoas batem por nada, xingam por nada. Quanta crueldade no homem.

Valdemir tem parentes, familiares, mas ninguém consegue conviver com ele e o seu vício. Ele contou que não consegue ficar muito tempo sem cachaça, pinga ou qualquer tipo de bebida. Durante a madrugada, quando fica sóbrio, começa a tremer, sentindo a abstinência. Seu corpo dói e ele passa muito mal. Ele não tem forças para ficar sem álcool no sangue. Frustrou-se em todas as tentativas de se abster das bebidas. Reconhece que não pode obrigar seus familiares a suportá-lo, mesmo que isso implique morar nas ruas. Até porque, pelo que entendi, seus parentes também não o querem por perto. Então, com esse argumento, justifica o fato de ser um andarilho.

Entretanto, morar nas ruas, ser espancado por nada, não ter amigos ou familiares a quem recorrer, não é pior que sobreviver três anos com fome. E eu me pergunto: como podemos viver sem comida?! Simplesmente não dá! Não dá para viver três anos do lixo, de restos, do nada. Eu chorei. Porque não tem como imaginar uma vida assim. A maior alegria dele é quando alguém o presenteia com uma refeição quentinha. Eu aqui achando que a maior alegria da minha vida seria poder viajar o mundo, conhecer lugares incríveis, enquanto Valdemir daria tudo por um prato de comida.

Quanta diferença fez na minha vida ouvir Valdemir contar sua história.  

Enquanto isso, eu tentava compreender porque ele falava tanto do futuro e fazia tanto planos. Porque ele tinha tanta ESPERANÇA. Finalmente entendi e eu te pergunto: como podemos viver sem esperança?! Simplesmente não dá pra viver sem esperança. Não tem como. Eu posso viver sem amigos, sem comida, sem teto, sem cobertor no frio, sem qualquer elemento que me torne uma pessoa normal, mas eu não posso viver sem esperança. Independentemente de tudo, Valdemir dizia: “Eu espero por uma oportunidade. Sei que alguém vai me ajudar”, “vou sair das ruas”, “vou me recuperar”, “vai dar tudo certo”. Ao mesmo tempo que as pessoas podem ser cruéis, podem ser muito boas.

Pensava que eu tinha grandes lições para ele, imagina. Valdemir me deu uma aula sobre a vida. No fim de tudo, mesmo quando parecer que não existe mais fundo de poço algum para chegar, sempre existirá esperança de melhora, de mudança. Pode ser que ele nunca chegue, de fato, a mudar. Porque eu não sei o fim dessa história. Eu nunca mais ouvi falar dele. Não sei se ele está vivo, bem, são. Mas de uma coisa eu tenho certeza: ele tinha esperança suficiente para dar a volta por cima!

Precisamos acreditar que tudo pode melhorar.  Precisamos confiar mais em Deus. Parar de achar que não tem mais solução. Sempre digo: “Vai dar tudo certo!”. Antes de conhecer Valdemir já dizia com absoluta certeza, agora, com mais força ainda. Sabe, Valdemir passou por tanta coisa ruim, sofreu tanto, mas estava ali, bem, firme, com o propósito de melhora. Acima de tudo, o andarilho, alcoólatra e drogado, Valdemir Usay, tinha esperança em si mesmo. Quem sabe.

E de repente já é Natal, Ano Novo, 2020...
E você ainda estará aí, tentando mudar a sua vida. Mas quem é que sabe se mudanças acontecerão?! Não tem como saber se você não tentar. Hoje, aliás. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Gorda ou Magra, Seja Feliz!

Por Jhenifer Costa

Preceito: Bonito para uns, pouco atrativo para outros. Assim somos nós, diferenciados de acordo com os estereótipos que a mídia determina. Mas quem disse que para ser bonito é preciso ser magro(a), alto(a), loiro(a) e ter cabelos lisos? A verdadeira beleza está nos olhos de quem a vê. Cuidar do corpo não é apenas estética, é desfrutar da sensação de bem-estar. Foi muito mais por mim do que pelo outros. Mais pela minha auto-estima e amor próprio. Ninguém pode dizer que você não está bem consigo mesmo até que você permita. -10kg.





       Sigam @rsanchescarvalho (instagram) e conheçam mais sobre o #extraordinaryproject 

                         (Continue lendo para saber mais sobre a minha história)

Foi em 2012 que eu comecei a ganhar peso assustadoramente. Ao todo, em menos de um ano, engordei 10 quilos! Esse peso todo se espalhou pelo meu quadril, abdômen, pernas e rosto. Eu estava me sentindo grande, mas acima de tudo, estava me sentindo mal. Olhar-se no espelho e não gostar do que você vê no reflexo é duro. Pior é quando você não encontra nenhuma peça de roupa no armário que te sirva e, infelizmente, você vai às compras, cedendo ao desleixo e a vontade inexistente de dar a volta por cima e mudar. Isso foi exatamente o que eu fiz.

Eu posso colocar a culpa em vários “fatores”. Talvez na ansiedade, na rotina irregular de uma universitária, na dieta ovolactovegetariana consumida por mim nos últimos três anos, que é composta por mais carboidratos que proteínas - aos que desconhecem o assunto e estão curiosos, confira o link http://pt.wikipedia.org/wiki/Vegetarianismo. Mas vou sincera com você. Engordei porque eu quis, porque eu não estava nem aí para o meu peso, para o meu corpo, para o meu bem-estar. Eu não estava interessada na opinião dos meus amigos e, na época, namorado. Desse jeito, engordar fica fácil.

Sabe, eu fico pensando em como as pessoas podem conviver com coisas que fazem mal a elas. Por exemplo, uma mulher que insiste em andar em cima de um salto desconfortável, que machuca e dói. Acostumamos-nos com as coisas ruins. Gostamos de pensar que está tudo bem, aparentemente.  Não sei o que é pior, o incomodo físico ou psicológico. Por um tempo eu estive assim, acostumada. Entretanto, eu gosto de mudanças e faz parte de mim ser, digamos, revolucionária. No instante em que eu subi na balança e constatei dez quilos extras, acumulados em forma de culotes, chorei. Essa parte ninguém sabia. Pensei: “Que diabos eu estou fazendo comigo?!”.

Fiz uma coisa que ninguém pode fazer por mim: TOMEI UMA ATITUDE! Após quase dois anos de comodismo puro, resolvi que eu não queria mais ficar daquele jeito. Gente, resisti, me reeduquei, cortei açúcar, depois ovo e leite e, mais tarde, qualquer coisa que fosse industrializada. Durante 40 dias consumi apenas frutas, legumes, verduras e nozes. E foi ótimo, de verdade. Passei vontade de comer muita coisa, é claro. Mas para alcançar alguns objetivos é preciso sacrifício. Não foi fácil, principalmente porque, ao sair, restam poucas opções de restaurantes e lanchonetes para fazer uma refeição no estilo vegetariano estrito (confira link acima). No fim, deu certo e perdi 10 quilos em três meses.

Estou contando isso para vocês porque eu sei que muitas pessoas acomodadas e insatisfeitas lerão esse texto. Amigo(a), preciso reafirmar uma coisa: Ninguém vai tomar essa atitude por você! Uma coisa é você sentir-se bem com seu corpo e saber que sua saúde está em dia, mesmo com uns quilinhos a mais. Agora, é totalmente inaceitável alguém saber que está doente, infeliz com a sua aparência e agir como se tudo estivesse numa boa. Eu digo sempre que precisamos olhar no espelho e gostar do que estamos vendo. Caso isso não aconteça, vamos nos mexer! Precisamos aprender a ter domínio próprio, a nos controlar. Temos que estipular limites para nós mesmos. Procure orientação de um especialista (fiz isso também), faça exercícios, mexa-se! 

Vale muito a pena se sentir bem e gostar de si mesmo(a). Não é padrão de beleza, moda, ditadura, mídia, seja lá o que for, é você. Eu não sou magra e, de acordo com os padrões estipulados por aí, estou longe disso. Estou feliz e satisfeita. Por favor, não continue achando que pode conviver com algo que não te faz bem. Seja feliz!


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mulheres e Meninas

Por Jhenifer Costa

Não costumo fazer comparações, porque acho depreciativo. As pessoas são diferentes mesmo e não tem nada que possamos fazer que vá deixá-las iguais. Isso é ótimo, aliás. Mas uma coisa é certa, mulheres são mulheres, meninas são meninas. Dentro desses universos distintos, temos muito o que descobrir.

Quem poderia dar uma boa definição de mulher é o nosso caro Fábio Júnior ou Vinícius de Moraes, por exemplo.  Vou me ater ao diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro, Vinícius de Moraes, que se casou com nove mulheres diferentes, acredite. Sem contar as amantes e namoradas. Uma confusão, filho pra lá, sogras pra cá. Mulher branca, morena, gorda, magra, nova, velha. Mulher brava, calma. Brasileiras e estrangeiras. Uma diversidade. Cada uma delas que passou pela vida de Vinicius, tinha a esperança de ser a viúva do galanteador. Ele morreu aos 67 anos, em 1980, decorrente de um edema pulmonar, após um derrame cerebral. Uma longa história.

Ele tem doutorado nessa questão, uma pena não estar mais aqui para uma entrevista. Vinicius amou e viveu bastante e, sem dúvidas, foi o poeta do amor. Ele experimentou todos os tipos de sensações e deixou isso para nós em forma de poemas. Não que eu concorde com o fato de ele ter sido um “Salomão” da vida, de forma alguma, mas eu acredito quando ele diz que mulher é um pouco de tudo. Um pouco de amor e ódio, alegria e melancolia, sensualidade e desleixo. Ele deixou suas impressões no poema “Ariana, a mulher”, um clássico publicado junto com “Forma e Exegese” em um só livro. Uma loucura. Ele amou todas as formas de mulher que encontrou, mas sempre as amou pelas suas características peculiares. Tenho para mim que todos os homens deveriam ler esse livro.

O primeiro amor dele foi aos sete anos. Ela se chamava Branca, devia ser de etnia branca também... No livro de João Carlos Pecci, “Minha profissão é andar”, há um trecho do seu primeiro caso de amor. “Comecei a amar Branca porque um dia, no portão de sua casa, minha mão encostou de leve em sua perna. Nunca mais esqueci a sensação”, revela Vinicius. Confesso que eu fiquei muito curiosa com essa declaração. Provavelmente ele ficou excitado, não no sentido literal da palavra, mas como criança, ficou louco com a ideia de ter uma mulher para si. E digo: Homens que são homens gostam muito de mulheres. Esperto que era, sabia que tinha muito mais mel dentro do pote.



Mas e a história lá de cima, “mulheres são mulheres, meninas são meninas”? Somente o homem que já teve uma mulher para si vai entender o que estou falando. Mulheres sabem como ter homens aos seus pés. Mulheres sabem cuidar, manter e cultivar. Mulheres sabem ferir corações como ninguém. Mulheres são inteligentes, divertidas. Mulheres são femininas nos pequenos detalhes. Mulheres tem autoestima, se aceitam, melhoram. Sabem o que podem ter e fazer. Mulheres usam pouca maquiagem e mais o cérebro. Antes de ser mulher, foi menina. Mas aprendeu, cresceu, amadureceu e se tornou incrível, irresistível e indispensável. 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Viva La Vida

Por Jhenifer Costa

A vida é aquilo que a gente faz e não aquilo que a gente planeja, sonha ou pensa. Quantos planos já foram feitos e nunca saíram da sua mente limitada? Outro dia eu ouvi um senhor de quase 90 anos dizendo: “Eu vivi bastante e não estou falando da minha idade, mas das coisas que fiz. Aliás, acho que fiz mais do que tinha planejado”.  Para ele, morrer aos 50 anos não teria sido ruim, visto que ele já havia realizado todos os seus sonhos até essa idade. Tem gente que tem pressa de viver. Tem gente que tem medo de perder tempo. Amigo, “se você soubesse o valor que cinco minutos tem, não o gastaria ativando o botão soneca do celular”, declara o jovem de 18 anos, Flávio Souza.

Há quem diga que perto da hora da morte um filme com os principais acontecimentos da vida passa diante dos olhos de quem está partindo. Todos os momentos importantes, legais, divertidos e ruins, na hora em que o carro se chocar com o outro e a vida estiver prestes a ser interrompida, vão passar diante dos seus olhos, você queira ou não. E eu me pergunto: Que filme eu quero ver quando eu estiver prestes a morrer?

Tenho a teoria de que a gente começa a viver, de fato, quando perdemos o medo de morrer. Quem tem medo da morte quando já fez as coisas mais incríveis na vida?! Quem tem medo de morrer quando já conheceu o amor da sua vida?! Quem tem medo de morrer quando já realizou seus sonhos, visitou lugares paradisíacos e comeu as melhores comidas do mundo?! Aquela sensação de satisfação, quando um item da sua lista de sonhos a serem realizados for riscado, é sublime. Não sou eu quem está dizendo, mas Daminhão, um senhor de 90 anos que faz o que dá na telha, quando quer e porque quer.

“Eu tenho vontade de fazer muitas coisas ainda. Quero viajar e conhecer muitos lugares, quero experimentar vários pratos diferentes... Tenho planos para daqui alguns anos fazer algumas viagens pelo Brasil a fora”, determina Daminhão. Ele, com toda certeza, fez muitas coisas legais ao longo dos anos. Foi soldado do Exercito Brasileiro aos 18 anos e permaneceu lá por mais de cinco anos, até se tornar Capitão.  Já foi contador e teve uma empresa quando jovem, a qual manteve o sustento de sua família por muitos anos. Foi dono de mercearia e aos 50 anos fez direito, advogando na área criminal até se aposentar, aos 65 anos. Desde então tem usado seu tempo livre para sonhar e realizar esses sonhos.

Quando jovem, ele causou-se com uma artista plástica que se apaixonara quando cursava Contabilidade. Juntos, eles conheceram muito lugares do mundo, mais de 10 países diferentes ao longo do casamento. Um casal lindo de classe média/alta, que morava em Sorocaba, interior de São Paulo. Tudo o que eles queriam era proporcionar todo o conforto possível para sua única filha, que também aproveitou bastante a vida. Mas nem sempre foi assim. É claro, toda boa história sempre tem uma parte ruim. Eu nem diria que essa parte foi ruim, mas inevitável, há quem a considere necessária.

Ele lutou muito para realizar os seus sonhos. Daminhão era pobre e morava em uma vila no interior da Bahia com mais de 10 irmãos. Sem estudo, perspectiva e condição financeira, ele provou que tudo é possível. Ele quis ser muitas coisas, assim como eu e você. Acredite, ele não ficou apenas querendo e pensando, ele foi viver, ele lutou por tudo o que desejou. Ele fez muito mais do que havia planejado, como disse no começo da história, e gostou tanto dessa história de viver, que continua fazendo planos e sonhando. O filme da vida de Daminhão será fantástico, e o seu?!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Eu, um batom e a vingança

Quando criança, fazemos uma série de coisas irracionais, tipo: comer areia, pular do segundo andar achando que é possível voar, fugir de casa, tomar antibiótico direto do vidro, só por causa do sabor docinho. Além de passar gilete na sobrancelha, cortar o próprio cabelo, especificamente a franja, sendo esta a parte mais difícil de esconder. Tem muita coisa, não dá para cogitar a possibilidade de listá-las.

Digamos que eu tenha sido uma criança um pouco pior que as outras e tenha feito coisas piores que as descritas acima. Minha mãe sempre me fala isso e eu acredito piamente. Assim, algumas coisas eu lembro bem, outra nem tanto. Mas as traquinagens que eu fazia eram de dar medo. Tipo, têm crianças sapecas, que gostam de chamar atenção, até aí, beleza. Mas eu? Amigo, não era brincadeira! Minha mente era capaz de arquitetar planos maléficos impossíveis de acreditar que eu havia pensando sozinha.

Vou contar uma historinha para vocês. Quando eu tinha uns cinco anos e estava na pré-escola (minha mãe me colocou na pré-escola muito cedo porque ela não me aguentava), tinha uma professora que dava aula usando um batom rosa com glitter que eu achava lindo. Era a coisa mais maravilhosa que eu já tinha visto na vida. Incrível, era o rosa mais rosa do mundo.  Então, para minha alegria descobri que ela guardava esse batom na gaveta da mesa dela, na sala de aula. Um dia ela abriu a gaveta perto de mim e foi a primeira coisa que eu enxerguei. Respirei fundo e quase tive um troço. Precisava usá-lo!

Todos os dias, antes de entrar na sala de aula, os alunos faziam uma fila para cantar o hino nacional e depois alguma música retardada de criança que eu não lembro a letra, graças a Deus. Então, no dia seguinte, na fila, fiz o infeliz comentário quando a vi: “Nossa ‘pro’, acredita que eu tenho um batom igualzinho o seu?”. Que mentira absurda! (estou envergonhada neste momento) Não lembro bem o que ela disse, mas deve ter sido “que bom pra você”, ou algo do tipo, mas eu me lembro bem da cara de preocupada que ela fez.

Pronto, agora sim eu tinha carta branca para cometer o crime. No mesmo dia, fomos à “Hora da brincadeira” (Breve explicação: a “Hora da Brincadeira” era o momento em que as crianças saiam para brincar na areia e no parquinho. Uns 40 minutos que eu aproveitava para me enfiar completamente na areia e ficar lá até acabar o tempo. Quando saia do tanque, tinha areia em todos os lugares possíveis do meu corpo. Acho que não tem um nome para essa brincadeira, mas eu chamava de minhoca). Nesse dia eu resolvi que iria passar o batom enquanto todos estivessem distraídos no parquinho, inclusive a professora. E foi isso que fiz. Sai de fininho, como quem não quer nada. Entrei na sala, que estava fechada, abri a gaveta com muito cuidado e comecei a procurar o batom. A gaveta era grande e funda, devia ter uns 40x40 cm, mais uns 20 cm de profundidade. Dentro, havia várias outras coisas legais, umas borrachas coloridas, lápis de cor, espelho, uns bilhetinhos que os alunos davam para a professora e eu acabei me distraindo e gastei uns minutos preciosos com a minha curiosidade. Por fim, achei o bendito. Abri e passei rapidinho, fechei e quando fui colocar de volta na gaveta, exatamente no mesmo lugar onde tinha encontrado, alguém abriu a porta e gritou: “Vou contar pra ‘pro’ que você está com o batom dela!”

Juro, meu coração parou por uns segundos. Instintivamente passei a mão na boca e comecei a esfregá-la para tirar o batom. Peguei minha camiseta, do lado de dentro, e passei na boca para ajudar a limpar. Coloquei o batom na gaveta tremendo e entrei em pânico. Não porque eu tinha pegado o batom e passado, certamente eu não ia roubá-lo, só queria passá-lo e pronto. O medo tomou conta do meu ser porque a pessoinha que viu tinha o poder de acabar com a minha vida naquele momento. O nome dela é Samantha. Na época ela era gordinha, mais que eu quando criança. Confortava-me em saber que alguém na minha sala era mais gorda que eu. O problema é que eu infernizava a vida da menina, tinha colocado vários apelidos nela, os mais escrotos do mundo, já tinha cortado as alças da mochila dela e, inclusive, já tinha dado um soco no olho dela. Então, imagine o meu desespero.

Não deu tempo de pegá-la no caminho e fazer uma chantagem. A menina foi correndo igual um meteoro, direto na professora. Meu plano era negar tudo, negar até morrer. Passei direto por elas, que estavam falando sobre mim, e fui para o tanque de areia. Foi pisar na beira e a professora me chamar: “Jhenifer, venha aqui, por favor!”. Resumindo a história, acabei confessando o feito e fui advertida pela professora, que mais tarde comunicou minha mãe. Em casa a coisa ficou feia e não vou me ater aos detalhes...

Sabe, naquele dia, aprendi duas grandes lições que vou levar para a vida inteira. Primeira: nunca pegar nada de ninguém sem pedir ou fazer planos para que isso aconteça sem ser pego, até porque alguém sempre vê.  Segunda: a pessoa que você mais provoca, bate, briga e esculhamba, um dia pode fazer o mesmo com você, não no sentido literal, mas pode fazer você se dar muito mal. Rolou uma vingança ali e não gostei muito disso. Aliás, nadica. 

Vai um pouco de tinta aí?

Há uns quatro anos eu me envolvi num acidente muito engraçado - num ônibus público de Sorocaba. Precisava pintar uma placa de branco com algumas palavras em vermelho. O fato é: tinha que mexer com tintas e isso envolvia concentração e atenção, além do cuidado com o manuseio das latas e pinceis. Não sou muito boa na parte da atenção e já sabia das probabilidades de alguma coisa dar muito errado. Pouco tempo antes, eu tinha pintado as paredes do meu quarto e, na minha opinião, ficou muito bom. Assim, algumas pessoas não gostaram, mas acredito que seja pela falta de bom gosto delas.

Consegui duas latas, uma branca fosca, pela metade, e uma vermelha cheia. Não lembro exatamente como consegui a branca, só sei que não a roubei. Agora, a lata de tinta vermelha, ganhei de um amigo que é pintor. Quando ele me deu a lata fui advertida da seguinte forma: “Jheni, essa tinta é a base de óleo. Cuidado! Ele mancha tudo, gruda em tudo. Tem que usar tinner se cair no chão e depois, para limpar os pinceis. Ah, se cair na roupa, já era!”. Nossa, confesso que fiquei até intimidada com a tintinha. Parecia tão inofensiva, só tinha 1 litro de conteúdo na lata e podia fazer um belo estrago...

Aí, no dia em que sai de casa para ir ao local onde pintaria a tal da placa, peguei uma sacola de supermercado, uma mais resistente que a normal (porque não sou tão lesa assim), e coloquei as duas latas dentro. Peguei um ônibus, que estava mais ou menos cheio, perto de casa. O percurso era de uns 30 minutos, no máximo. Mas vocês sabem como é o transporte público, não é? Um caos. Eu até poderia aproveitar esse texto e fazer uma crítica ao governo sobre os transportes públicos. Aliás, é o que vou fazer! Brincadeira, vamos focar e um dia quem sabe eu volte a falar sobre isso. Voltando. Entrei e não vi nenhum lugar desocupado. Espera, achei um! Perto do motorista e dos acentos preferenciais. E fui para lá, lógico. Eu não sentei, coloquei as latas de tinta no banco, porque elas eram prioridade. Fiquei ao lado do banco, no corredor, apoiando com a perna a sacola e com as mãos levantadas me segurava nos apoios do ônibus.

Estava indo tudo bem, de vez em quando até pegava o celular e mandava mensagens para o meu boy magia, na época. Faltavam uns dez minutos para chegar no ponto de parada e o ônibus fez uma curva fechada. E adivinha... estava com o celular em uma das mãos, enquanto a outra estava tentando buscar equilíbrio. A perna que apoiava a sacola com as latas cambaleou e deixou o caminho livre para elas caírem e serem felizes. Gente, a lata de tinta vermelha estava por cima da branca e a tampa estava mal fechada. Infelizmente, só percebi isso quando ela já estava no chão. Eu posso descrever a cena em câmera lenta, inclusive o meu desespero foi em slow motion. A lata quicou no chão, a tampa foi para um lado e a lata para outro. O líquido vermelho começou a escorrer muito depressa pelo ônibus, mas não no sentido do motorista, e sim na direção do fundo. Eu entrei em pânico. Rapidamente fechei a sacola que ainda guardava a outra lata e parti para a missão impossível: recuperar o que havia caído. Sinceramente, alguém me explica por que diabos eu resolvi pegar a tinta com a mão e jogar de volta na lata?!

Eu nem olhei para o lado para dimensionar o estrago. Comecei a pegar a tinta freneticamente, porque eu sabia que era cara e eu não teria dinheiro para comprar outra. Mas caiu muita tinta no chão e estava escorrendo rápido demais, conforme o ônibus se locomovia. As pessoas que estavam perto de mim começaram a me chamar, tipo assim: “Menina! Ei!”. Eu fiquei vermelha de vergonha, igual a tinta, e parei para olhar a tragédia que causei. A tinta espirrou em duas pessoas que estavam perto do mim, além disso, caiu muita tinta no meu tênis, que na verdade não era meu, mas da minha mãe. Ainda por cima, era novo e para piorar tudo, tinha pegado escondido. Aí nesse momento eu entrei no modo offline para o mundo. Eu só sei que as pessoas começaram a me xingar de desastrada, desordeira. Os que tinham as roupas manchadas pela tinta diziam: “Minha calça nova, blá blá...” e outros pediam para parar o ônibus. Então, me virei com a maior calma do universo e disse: “Gente, é só lavar que sai!” e dei um sorriso como esse :D. É claro que não saia, foi a primeira advertência que recebi ao pegar a lata da maldição. O engraçado é que eu só pensava na desculpa que eu daria para minha mãe em relação ao tênis. Não sabia o que fazer, nem na hora, nem depois.

O motorista realmente parou o trambolho. O auxiliar que estava ao lado dele desceu perto de um monte de areia e começou a pegar a terra com a mão e colocar numa sacolinha. Depois, ele entrou pela porta dos fundos e começou a jogar areia em cima da tinta que escorria, para que não escorresse mais ainda pelo ônibus. Ele ficou bem bravo, tipo, bravo mesmo. Perguntou se eu estava pensando em pintar um carro! É claro que tentei explicar, mas ele nem me deixava falar.

Finalmente, desci no ponto pretendido. Tinha muita gente na rua e todo mundo me olhava com indignação. Claro, eu estava completamente suja de tinta vermelha! Minhas mãos até os pulsos, meu (da minha mãe) par de tênis, minha perna e até o meu rosto tinha tinta! Na verdade, parecia que eu tinha acabado sofrer um acidente no qual eu meio que sobrevivi e estava completamente machucada, começando pelas mãos. Pois é, e essa nem é a minha pior história de ônibus.