Há uns quatro anos eu me envolvi
num acidente muito engraçado - num ônibus público de Sorocaba. Precisava
pintar uma placa de branco com algumas palavras em vermelho. O fato é: tinha
que mexer com tintas e isso envolvia concentração e atenção, além do cuidado
com o manuseio das latas e pinceis. Não sou muito boa na parte da atenção e já sabia das
probabilidades de alguma coisa dar muito errado. Pouco tempo antes, eu tinha pintado
as paredes do meu quarto e, na minha opinião, ficou muito bom. Assim, algumas
pessoas não gostaram, mas acredito que seja pela falta de bom gosto delas.
Consegui duas latas, uma branca
fosca, pela metade, e uma vermelha cheia. Não lembro exatamente como consegui a
branca, só sei que não a roubei. Agora, a lata de tinta vermelha, ganhei de um
amigo que é pintor. Quando ele me deu a lata fui advertida da seguinte forma:
“Jheni, essa tinta é a base de óleo. Cuidado! Ele mancha tudo, gruda em tudo.
Tem que usar tinner se cair no chão e
depois, para limpar os pinceis. Ah, se cair na roupa, já era!”. Nossa, confesso
que fiquei até intimidada com a tintinha. Parecia tão inofensiva, só tinha 1
litro de conteúdo na lata e podia fazer um belo estrago...
Aí, no dia em que sai de casa
para ir ao local onde pintaria a tal da placa, peguei uma sacola de
supermercado, uma mais resistente que a normal (porque não sou tão lesa assim), e
coloquei as duas latas dentro. Peguei um ônibus, que estava mais ou menos cheio,
perto de casa. O percurso era de uns 30 minutos, no máximo. Mas vocês sabem
como é o transporte público, não é? Um caos. Eu até poderia aproveitar esse
texto e fazer uma crítica ao governo sobre os transportes públicos. Aliás, é o
que vou fazer! Brincadeira, vamos focar e um dia quem sabe eu volte a falar
sobre isso. Voltando. Entrei e não vi nenhum lugar desocupado. Espera, achei
um! Perto do motorista e dos acentos preferenciais. E fui para lá, lógico. Eu
não sentei, coloquei as latas de tinta no banco, porque elas eram prioridade.
Fiquei ao lado do banco, no corredor, apoiando com a perna a sacola e com as
mãos levantadas me segurava nos apoios do ônibus.
Estava indo tudo bem, de vez em
quando até pegava o celular e mandava mensagens para o meu boy magia, na época.
Faltavam uns dez minutos para chegar no ponto de parada e o ônibus fez uma
curva fechada. E adivinha... estava com o celular em uma das mãos, enquanto a
outra estava tentando buscar equilíbrio. A perna que apoiava a sacola com as
latas cambaleou e deixou o caminho livre para elas caírem e serem felizes.
Gente, a lata de tinta vermelha estava por cima da branca e a tampa estava mal
fechada. Infelizmente, só percebi isso quando ela já estava no chão. Eu posso
descrever a cena em câmera lenta, inclusive o meu desespero foi em slow motion.
A lata quicou no chão, a tampa foi para um lado e a lata para outro. O líquido
vermelho começou a escorrer muito depressa pelo ônibus, mas não no sentido do
motorista, e sim na direção do fundo. Eu entrei em pânico. Rapidamente fechei a
sacola que ainda guardava a outra lata e parti para a missão impossível:
recuperar o que havia caído. Sinceramente, alguém me explica por que diabos eu
resolvi pegar a tinta com a mão e jogar de volta na lata?!
Eu nem olhei para o lado para
dimensionar o estrago. Comecei a pegar a tinta freneticamente, porque eu sabia
que era cara e eu não teria dinheiro para comprar outra. Mas caiu muita tinta
no chão e estava escorrendo rápido demais, conforme o ônibus se locomovia. As
pessoas que estavam perto de mim começaram a me chamar, tipo assim: “Menina!
Ei!”. Eu fiquei vermelha de vergonha, igual a tinta, e parei para olhar a
tragédia que causei. A tinta espirrou em duas pessoas que estavam perto do mim,
além disso, caiu muita tinta no meu tênis, que na verdade não era meu, mas da
minha mãe. Ainda por cima, era novo e para piorar tudo, tinha pegado escondido.
Aí nesse momento eu entrei no modo offline
para o mundo. Eu só sei que as pessoas começaram a me xingar de desastrada,
desordeira. Os que tinham as roupas manchadas pela tinta diziam: “Minha calça
nova, blá blá...” e outros pediam para parar o ônibus. Então, me virei com a
maior calma do universo e disse: “Gente, é só lavar que sai!” e dei um sorriso
como esse :D. É claro que não saia, foi a primeira advertência que recebi ao
pegar a lata da maldição. O engraçado é que eu só pensava na desculpa que eu
daria para minha mãe em relação ao tênis. Não sabia o que fazer, nem na hora,
nem depois.
O motorista realmente parou o
trambolho. O auxiliar que estava ao lado dele desceu perto de um monte de areia
e começou a pegar a terra com a mão e colocar numa sacolinha. Depois, ele
entrou pela porta dos fundos e começou a jogar areia em cima da tinta que
escorria, para que não escorresse mais ainda pelo ônibus. Ele ficou bem bravo,
tipo, bravo mesmo. Perguntou se eu estava pensando em pintar um carro! É claro
que tentei explicar, mas ele nem me deixava falar.
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