segunda-feira, 30 de março de 2015

'Extraordinário', de R. J. Palácio


“- Por que eu tenho que ser tão feio, mamãe? – murmurei.
- Não, querido, você não é...
- Eu sei que sou.
Ela beijou meu rosto todo. Beijou meus olhos que eram muito caídos. Beijou minhas bochechas, que pareciam afundadas demais. Beijou minha boca de tartaruga.
Disse palavras gentis, que, eu sabia, eram para me ajudar, mas palavras não vão mudar meu rosto.”

É claro que eu já sofri bullyng. Olhe para mim, meu cabelo é cacheado e não é fácil de cuidar. Quando acordo, digamos que: ele se apropria de uma rebeldia incontrolável. Demorei muito para conseguir entender que “pau que nasce torto nunca se endireita, rs”. Hoje, minhas intrigas com meu cabelo são bem menos frequentes e agora nos amamos, mutuamente.

 Na minha infância, alguns amigos da escolinha onde eu frequentava me chamavam de “sapatão”, só porque eu usava, dia e noite , um all star com salto plataforma cheio de glitter que ganhei dos meus pais de aniversário. Sim, sei que era muito brega, mas eu era uma criança de sete anos e usar acessórios com glitter era muito descolado (na minha cabeça). Sem mencionar meu lance com botas de bico fino e shorts, que gostava de colocar na boca do estômago para apertar a barriga e parecer mais magrinha. Porque SIM, eu também era gorda.

Acontece que eu não me achava feia, na real, me achava linda! Adorava meu cabelo, mesmo sabendo que nunca sentiria o vento a esvoaçá-lo. Tipo aquele fenômeno que a gente vê nos comercias de shampoo. Enfim, muitas outras peculiaridades que eu possuía eram motivo para que os meus “amiguinhos” zombassem de mim.  Se não fossem aqueles patifes, usaria até hoje meu super all star. Brincadeira, também não vou avacalhar ...

Certo vez, cheguei em casa depois de um dia na pré-escola, olhei pra minha mãe e disse:

- Mãe, não quero mais usar esse tênis na escola porque meus amigos estão me chamando de “sapatão”.
- Então eles não são teus amigos.
- Mas mãe, ele também está apertado. Preciso de um novo – enfatizei.
- Está bem... Vamos comprar outro em breve. Ah, não ligue para o que falam de você! Eles devem estar com inveja porque você fica mais alta que eles – respondeu, sem parecer dar muita importância para o meu problema.

Na verdade, eu não sabia o que significava o termo pejorativo “sapatão” e ela percebeu isso, contudo, não se preocupou em me dar explicações naquele momento. Seu coração de mãe estava mais preocupado em me moldar como ser humano, fazendo-me encarar os problemas que teria em ser quem eu era. Dias depois ela comprou outro tênis e, adivinhem, também tinha salto plataforma! Tive que usá-lo até a sola gastar e olha que isso não foi uma tarefa fácil... Somente anos mais tarde entendi que a minha preciosa mãe estava me ensinando três grandes lições para a vida toda: não ligue para o que pensam ou falam de você; aprenda a lidar com suas características ou gostos diferenciados, mesmo que ninguém se agrade; quem te ama, te aceita exatamente como você é.  Acho que não preciso falar mais nada...

Tudo isso que contei foi apenas para reforçar a problemática abordada no livro “Extraordinário”, de R. J. Palácio. A obra conta a história de um garoto chamado August Pullman, mais conhecido como Auggie. Ele nasceu com uma deformidade facial, deixando-o com uma aparência um tanto assustadora. Aos dez anos, Auggie nunca havia frequentando uma escola comum, mas quando esse dia finalmente chega, ele precisa aprender a sobreviver num mundo onde existe bullyng. Da perspectiva dos pais, da irmã, dos amigos e do próprio Auggie, os relatos são contados com uma sensibilidade comovente. O maior desafio dele era provar para todos sua semelhança com as outras crianças, apesar da aparência. Para nós, o maior desafio é a gentileza.

Não importa quão bonita ou feia seja uma pessoa, o fato é que, inevitavelmente, você se acostumará com ela. Mesmo que as pessoas tentem te diminuir, ofender, usar suas características peculiares contra você mesmo, entenda que “todo o que é nascido de Deus vence o mundo”. Ser diferente é bom! Não fomos criados para sermos iguais e nem para agradarmos a todos. Além disso,  ninguém pode magoá-lo te chamando de "narigudo" sem que você permita. Portanto, não deixe que comentários maldosos lhe façam mal. No fundo, o que o oprime quer ser um pouco do que você é.

Preceito de Auggie: “Toda pessoa deveria ser aplaudida de pé, pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo.”

Por Jhenifer Costa

3 comentários:

  1. Livro maravilhoso! Nos faz querer agir da melhor forma possível com o próximo! Sucesso :D

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  2. Esse livro ultrapassa a categoria de lindo e emocionante. E se eu pudesse usava um tênis com Glitter até hoje. haha
    mil beijos <3

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  3. Esse livro mexe muito comigo :) Adorei o seu relato!
    Ainda quero publicar uma resenha dele lá no meu blog.
    Aaaah, você conhece aquele livro 365 dias extraordinários?
    Tem todos os preceitos do livro. É lindo <3

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