segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sobre abraços



Introito: A duração média de um abraço é de três segundos. Geralmente, abraçamos rapidamente as pessoas com medo dessa demonstração de afeto tão grandiosa. Mas, quando um abraço dura vinte segundos ou mais, acontece algo fantástico com o nosso corpo! Esse abraço sincero produz um hormônio chamado oxitocina, conhecido popularmente como hormônio do amor. Tem efeito terapêutico, nos ajuda a relaxar, nos dá segurança e acalma nossos medos e ansiedades. Um abraço sincero, que dure mais de vinte segundos, pode mudar o dia alguém.

                Não tem nada melhor que receber um abraço apertado. Aliás, melhor, só se for um abraço demorado e doado por alguém que amamos. Já recebi abraços tão intensos, que consegui captar os batimentos cardíacos da pessoa. Por um instante, achei que estávamos pulsando no mesmo ritmo. Recentemente, pesquisei sobre o poder de um abraço verdadeiro, e a conclusão que cheguei, de acordo com dados científicos, é que um abraço pode até curar as doenças da alma e do coração. Sim. Inacreditável!
                Costumeiramente, abraçamos e somos abraçados por no máximo três segundos. A psicologia revela que quanto mais perto estiverem os quadris da dupla, mais intimidade essas pessoas têm entre si. Porém, o detalhe mais importante sobre o abraço é o seu tempo de duração. Quando um abraço dura vinte segundos ou mais, acontece algo fantástico com o nosso corpo! Esse abraço sincero produz um hormônio que corre pelo nosso sangue chamado oxitocina, conhecido popularmente como hormônio do amor. Tem efeito terapêutico, nos ajuda a relaxar, nos dá segurança e acalma nossos medos e ansiedades.
                Por incrível que pareça, são pouquíssimas as pessoas que abraçamos por mais de vinte segundos na vida. Podemos abraçá-las muitas vezes dessa maneira ao longo dos anos, porém, a soma média dos “abraçados” não ultrapassa os dedos de uma mão. Eu, por exemplo, fui abraçada e abracei oito pessoas durante a minha vida inteira por mais de vinte segundos. Em todas as vezes, estava tomada por algum tipo de forte emoção. A ação comprova que nem sempre palavras são suficientes para expressar o que sentimos, por isso existem os abraços.
                A gaúcha Nathália Lima, que estuda e mora durante a maior parte do ano em Engenheiro Coelho, interior de São Paulo, conta que “os melhores abraços são os de reencontros. Senti e sinto isso toda vez que abraço e reencontro os meus pais. Sempre é reconfortante, como retornar ao porto seguro”. Sou obrigada a concordar com ela, os abraços de reencontros, por menos tempo que durem, são sempre intensos, inesquecíveis. Ela tem data marcada para dar abraços como esse nos seus familiares, já a sorocabana Nicole Caroline, confessou a mim uma experiência única que viveu com seu atual esposo. “Lembro-me exatamente como aconteceu. Numa ocasião, quando ainda namorava o Rogério, ele foi a São Paulo e ficou por lá durante um mês, isso bem no começo do nosso relacionamento. Finalmente, o abraço foi tão maravilhoso quando nos reencontramos! Um milhão de emoções. Senti muita alegria em tê-lo novamente. Naquele abraço, o senti me dizendo que nunca mais me deixaria com saudade”, compartilha Nicole.
                Há muitos que recebem abraços incríveis de amigos também, esses, nos proporcionam emoções diferentes, não menos grandiosas que as citadas acima. Amigos verdadeiros são raros, abraçá-los então... tornou-se um ato difícil, quase extinto, já que vivemos numa era onde os relacionamentos interpessoais são “alimentos” por meio das redes sociais. Até o nosso tempo foi prejudicado com a falsa ilusão de aproximação dos nossos amigos proporcionada pela internet. A pressa ligada à interatividade da comunicação constrói relações puramente superficiais. Não temos mais paciência para coisas artesanais, demoradas. Chego a pensar que a rapidez dos nossos abraços é reflexo da modernidade que estamos vivendo, numa era onde nos preocupamos mais em “ter” do que’ ser”. Ter mais amigos no Facebook, do que ser mais amigo, entende? Por isso, ainda sou o tipo de jovem que manda cartas, que faz ligações e que combina de encontrar velhos amigos no parque. No fundo, tenho medo de perder essa humanidade que nos difere das máquinas. 
                Felizmente, ainda existem jovens que preservam esse tipo de contato. Julio Pereira viaja no tempo ao contar um momento em que precisou abraçar um amigo como nunca antes. “Meu amigo Cristiano estava sozinho na véspera do Natal, em São Paulo. Foi a primeira ceia natalina sem o pai dele, que falecera há pouco tempo. Sabe, ele pediu a minha presença e como ele é um grande amigo fui visitá-lo. Fui recebido e dispensado com um abraço marcante. Foi um agradecimento por eu ter ido vê-lo. Senti muitas coisas, como gratidão e a prova de uma amizade verdadeira. Coisa de Deus!”, reconhece. Aliás, abraço só pode ser coisa de Deus mesmo, impossível não ser! Imagino que Ele já sabia como seria nossa vida e criou o abraço para ser o remédio da alma, para nos ajudar a seguir em frente, quando estivermos desesperados.
                Certa vez, quando ainda era criança, desobedeci meus pais numa regra simples que eles haviam estabelecido para mim. Obviamente, me arrependi e estava sofrendo as consequências da minha decisão de não fazer o que era certo. No entanto, estava absolutamente perturbada com a ideia de que minha mãe ficasse chateada comigo por não ter feito o que ela queria. Lembro-me de que no mesmo dia havíamos ido a igreja. No meio do culto, senti um aperto no coração quase insuportável e então, chorando, disse que precisava conversar com ela no banheiro, mas tinha que ser naquele momento. Eu levantei e sai e ela foi logo em seguida. Ela chegou e eu nem falei nada, não pedi desculpas, mal olhei nos olhos dela. Apenas a abracei e ela retribuiu. Não sei ao certo quanto tempo ficamos ali, mas certamente foi muito mais que vinte segundos. Não importa quanto tempo passe, eu nunca vou me esquecer daquele abraço calmante, amável e cheio de perdão.  
                               Podemos até tentar reproduzir esses abraços, bem como os momentos, mas isso é impossível, desculpe-me por desapontá-los. A vida é feita de momentos únicos, você deve saber. Para a felicidade dos seres carinhosos, enquanto produzo esse texto penso que milhares de pessoas espalhadas pelo mundo estão esperando serem abraçadas. Não necessariamente por mais de vinte segundos, apenas três. Está na hora de praticarmos amor com o nosso próximo, que pode estar bem mais perto do que imaginamos. Mas lembrem-se: “O abraço é uma coisa tão séria que não se empresta, se dá”, como disse a escritora Marla de Queiroz.

                Agora, você entende porque um abraço sincero, que dure vinte segundos ou mais, pode mudar a vida de alguém?

Por Jhenifer Costa 

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